terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

AS VAIAS NA BEIJA-FLOR





     Antes mesmo de entrar na Sapucaí para participar do desfile das campeãs do carnaval carioca, a Beija-Flor campeã deste ano foi sonoramente vaiada.
     Dificilmente vejo pela televisão os desfiles, por não dispor de paciência, para louvar a genialidade dos seus carnavalescos, verdadeiros mestres na arte dos movimentos ao ritmo de uma bateria, executados por uma multidão de figurantes, que naqueles minutos mágicos vivem um sonho que jamais esquecerão. São 80 minutos de pura magia, de muitas luzes iluminando os decretados às sombras. Onde cada rodopio dos destaques às baianas são faces de uma mesma moeda: esquecer e sonhar.
    Mesmo não tendo preferência por nenhuma delas, adoro ver a apuração. Testemunhar o sofrimento dos seus dirigentes, passistas, cantores e principalmente o carnavalesco embora possa parecer masoquismo, é na realidade, constatar a  paixão de uma comunidade que não mede sacrifícios  para viver a ilusão do carnaval.  
     A cada nota anunciada tenho a impressão que o coração de algum deles vai pedir para sair de cena, por alegria ou decepção.
     Esse ano a cada aparição de Laíla da Beija-Flor todo de branco, cheio de colares, suando, bufando, inquieto   e tentando equilibrar aquele corpanzil na cadeira, imaginava que aquela imagem seria a última naquele estado angustiado.
     Voltando ao assunto, a mesma Beija-Flor que encantara a Sapucaí no desfile com seu enredo, seu samba, suas alegorias, seu mestre sala e sua porta bandeira, seus destaque e suas baianas, que fizera tremer o sambódromo pela cadência da sua bateria, que não deixara buracos, e encantara a todos com suas belíssimas fantasias e adereços destacaram-na das demais, com isso conquistando  seu 13º título, era vaiada injustamente por um quesito que não entra em julgamento: patrocínio.
     Segundo o noticiário toda aquela beleza plástica que a todos encantara e fizera com que o somatório das notas atribuídas pelos jurados fosse superior aos das demais escolas que também balançaram o sambódromo, foi patrocinado pelos cofres públicos da Guiné Equatorial, uma das ditaduras africanas que, segundo dizem, é uma das mais cruéis.
     Francamente, hipocrisia tem limites. E cada vez que constato um comportamento desses, convenço-me cada vez mais que não existe hipocrisia na moralidade. Ela é a hipocrisia na sua mais perfeita e acabada expressão.
     Esses “moralistas de plantão” (não vou adjetiva-los de hipócritas, pois seria redundância), por conveniência própria, escondem que não foi a ditadura a homenageada e sim um país com um histórico de lutas por sua independência, um folclore magnifico e riquíssimo em recursos naturais, grande parte explorado por empresas brasileiras que certamente ajudam a abastecer os cofres do ditador, sem com isso provocar o mínimo rubor nos moralistas de ocasião. Talvez alguns desses estejam direta ou indiretamente sendo beneficiados por tal comportamento.
     Ainda no quesito hipocrisia, confesso jamais ter visto alguém condenar uma escola de samba por ser financiada pelos contraventores do jogo de bicho, sabidamente a cortina do crime organizado nas suas mais variadas vertentes.
     Nem também críticas às Escolas que desfilaram tendo como patrocinadores Estados como Amapá, Maranhão, Pernambuco etc., financiados pelos cofres de estados reconhecidamente pobres e com IDH péssimos.
     Essa campanha vem com as digitais dos (i)moralistas contumazes que não conseguem viver sem aspirar os odores fétidos exalados pelos seus cérebros ainda impregnados pelas ideias do nazi-fascismo.
     Pobres criaturas.
     Infelizes almas que ainda não conseguiram se livrar de um passado que incomoda, mas que tentam ressuscitar por não terem conseguido até hoje assimilar a tolerância e compreensão.
  




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