Antes mesmo de entrar na Sapucaí para
participar do desfile das campeãs do carnaval carioca, a Beija-Flor campeã
deste ano foi sonoramente vaiada.
Dificilmente vejo pela televisão os desfiles, por não dispor de paciência, para louvar a genialidade dos seus carnavalescos, verdadeiros mestres na arte dos movimentos ao ritmo de uma bateria, executados por uma multidão de figurantes, que naqueles minutos mágicos vivem um sonho que jamais esquecerão. São 80 minutos de pura magia, de muitas luzes iluminando os decretados às sombras. Onde cada rodopio dos destaques às baianas são faces de uma mesma moeda: esquecer e sonhar.
Mesmo não tendo preferência por nenhuma delas, adoro ver a apuração. Testemunhar o
sofrimento dos seus dirigentes, passistas, cantores e principalmente o carnavalesco embora possa parecer masoquismo, é na realidade, constatar a paixão de uma comunidade que não mede sacrifícios para viver a ilusão do carnaval.
A cada nota anunciada tenho a impressão que o
coração de algum deles vai pedir para sair de cena, por alegria ou decepção.
Esse ano a cada aparição de Laíla da
Beija-Flor todo de branco, cheio de colares, suando, bufando, inquieto e tentando equilibrar aquele corpanzil na
cadeira, imaginava que aquela imagem seria a última naquele estado
angustiado.
Voltando ao assunto, a mesma Beija-Flor
que encantara a Sapucaí no desfile com seu enredo, seu samba, suas alegorias,
seu mestre sala e sua porta bandeira, seus destaque e suas baianas, que fizera tremer o sambódromo pela
cadência da sua bateria, que não deixara buracos, e encantara a todos com suas
belíssimas fantasias e adereços destacaram-na das demais, com isso conquistando seu 13º título, era vaiada
injustamente por um quesito que não entra em julgamento: patrocínio.
Segundo o noticiário toda aquela beleza
plástica que a todos encantara e fizera com que o somatório das notas atribuídas
pelos jurados fosse superior aos das demais escolas que também balançaram o
sambódromo, foi patrocinado pelos cofres públicos da Guiné Equatorial, uma das
ditaduras africanas que, segundo dizem, é uma das mais cruéis.
Francamente, hipocrisia tem limites. E
cada vez que constato um comportamento desses, convenço-me cada vez mais que
não existe hipocrisia na moralidade. Ela é a hipocrisia na sua mais perfeita e
acabada expressão.
Esses “moralistas de plantão” (não vou
adjetiva-los de hipócritas, pois seria redundância), por conveniência própria,
escondem que não foi a ditadura a homenageada e sim um país com um histórico de
lutas por sua independência, um folclore magnifico e riquíssimo em recursos
naturais, grande parte explorado por empresas brasileiras que certamente
ajudam a abastecer os cofres do ditador, sem com isso provocar o mínimo rubor
nos moralistas de ocasião. Talvez alguns desses estejam direta ou indiretamente
sendo beneficiados por tal comportamento.
Ainda no quesito hipocrisia, confesso
jamais ter visto alguém condenar uma escola de samba por ser financiada pelos
contraventores do jogo de bicho, sabidamente a cortina do crime organizado nas
suas mais variadas vertentes.
Nem também críticas às Escolas que
desfilaram tendo como patrocinadores Estados como Amapá, Maranhão, Pernambuco etc., financiados pelos cofres de estados
reconhecidamente pobres e com IDH péssimos.
Essa campanha vem com as digitais dos
(i)moralistas contumazes que não conseguem viver sem aspirar os odores fétidos
exalados pelos seus cérebros ainda impregnados pelas ideias do nazi-fascismo.
Pobres criaturas.
Infelizes almas que ainda não
conseguiram se livrar de um passado que incomoda, mas que tentam ressuscitar
por não terem conseguido até hoje assimilar a tolerância e compreensão.
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