SEM LENÇO E SEM DOCUMENTO

     

    De repente, não mais que de repente me vi sem lenço e sem documento. Ou fui vítima de um descuido próprio, ou um observador cuidadoso aproveitou  meu descuido e surrupiou minha carteira com uns minguados reais e toda a minha fortuna: meus documentos. Claro que fiquei chateado, mas nada que pudesse diminuir o meu prazer de estar na belíssima Curitiba curtindo seu frio polar para um nordestino acostumado ao calor de Salvador combinado ao fato de em família festejar o aniversário de dois belíssimos representantes de suas gerações: D. Vilma (80 anos) e Bernardo (29 anos).
     Como aperitivo da festa,  o prazer de rever meu amigo Pedro Schwab (Pedrão), companheiro de jornada nas batalhas pela defesa do interesse dos profissionais da corretagem de seguros, quando ainda sonhávamos o sonho de um futuro radiante que infelizmente não veio, engolfado que fomos pelos interesses vorazes do sistema financeiro. Mas nada disso importou no reencontro. O importante mesmo foi relembrar com saudade sem lamento do tempo gostoso dos debates, das discussões, da luta que parecia não acabar, da esperança de que um dia conquistaríamos o mundo. O mundo não conquistamos. Entretanto, plantamos uma amizade que o tempo não conseguiu esmaecer mesmo com mais de 3.000 kilometros nos separando. Valeu e valerá sempre.
      Na continuidade do prazer, a felicidade de estar com irmãos, cunhada, sobrinhos, amigos diletos e através dos amigos fazendo novos amigos, estreitando laços, contando e ouvindo "causos." E por falar no assunto, o melhor deles foi a experiência vivida por Richard que num movimento descompassado decorrente de uma dor de barriga daquelas que deixa a vítima suando que nem chaleira e que vai empalidecendo o premiado  até ficar cinza arroxeado, ter que pescar de enxada o seu celular que mergulhara na piscina do seu produto final. Em tempo: após um banho daqueles o quase suicida continua falando e provavelmente pedindo a todos os santos que evite movimentos bruscos do seu proprietário para que não venha novamente passar por terrivel vexame.
     O clímax (que palavrinha pernóstica) foi no domingo onde todos nós em êxtase (se continuar assim vai virar crônica pornô) comemoramos o aniversário saboreando um barreado magistralmente regido pelo internacional maestro do ramo, o inigualável Orley que com a mesma maestria que prepara essa comida maravilhosa, tritura em seu blog aqueles que não tratam Morretes com o respeito que ela merece.
     Do sorriso largo de Andréa, aos "causos" de Ricardo, da" paparazzi" Raquel sempre atenta para os flagrantes a orgulhosa recifense Hildinha, do inocente Lucas aos pais orgulhosos, do futuro juiz Vinicius ao também aniversariante Bernardo e sua bela namorada Emanuelle, todos nós sem exceção, vivemos o grande momento de estar comemorando os 80 anos bem vividos de D. Vilma que a todos cativava com sua simpatia, sem abrir mão da condição de matriarca. Portanto por que me preocupar com o fato de que naquele momento eu era alguem sem lenço e sem documento? Nem saudades deles eu senti. Foram-se sem a menor consideração, provavelmente nas mãos de um hábil ilusionista que ainda não despertou que seu estilo de vida é uma ilusão.
     Documentos fazem falta mas não passam de documentos.
     Momentos felizes são oportunidades raras que temos que valorizar bastante quando ocorrem.
      Parabens D. Vilma.
      Parabens Bernardo.