Não sou fã de televisão. Um tanto pela impaciência de ficar sentado de olho grudado na tela e também pela mediocridade da programação. Mas, daí, negar sua importância, jamais.
E, desde sábado 29 a TV brasileira ficou ainda menor com a morte de um dos seus grandes ícones: Hebe Camargo. Seu sorriso constante, contagiante, sua sinceridade e porque não dizer, suas "gafes" davam-lhe uma autenticiade permanente num mundo de faz de conta, artificial, que na procura excessiva pela perfeição, da subordinação ao tempo e aos compromissos com os patrocinadores, transmite-nos a impressão que o choro é sempre ficcional, programado, mesmo nas reportagens onde as vítimas das tragedias, dos dramas pessoais choram e derramam lágrimas verdadeiras.
Nesse mundo de faz de conta, Hebe era uma exceção: conseguia dar vida a quem não possuía alma. Sabia realmente fazer televisão ao vivo, onde o pré fabricado devolvia envergonhado o espaço para o autentico e este sem a mínima cerimonia ocupava o lugar surrupiado. E isso ninguém fazia parecido como Hebe Camargo.
Entrevistando ou sendo entrevistada roubava a cena sem nos bater a carteira. Falava e deixava falar. Com maestria, sensibilidade e senso de oportunidade intervia na conversa, muitas vezes com comentários que deixavam desconsertados os entrevistados e entrevistadores.
Lembro-me de um programa em que ela, Bruna Lombardi e Marília Gabriela entrevistaram Jô Soares. Bruna com aquele estilo meloso deu uma verdadeira aula de "baba ovismo" em Jô...argh! Marília, mais competente saiu-se um pouco melhor. Mesmo assim reverenciou mais do que entrevistou. Reticente nas perguntas, cautelosa nas palavras, parecendo temerosa, não exerceu com a competência que tem, o papel de uma verdadeira entrevistadora. Já Hebe não, deitou e rolou. Passou por cima do Gordo, perguntou o que lhe deu na telha, revelou fatos, contestou respostas, debochou respeitosamente. Resumindo: colocou o Gordo na parede. Deu uma verdadeira aula de como entrevistar alguem. Mostrou que sem fugir ao respeito não pode se intimidar com o prestigio, a aura do entrevistado.
Hebe se foi e certamente deixa uma saudade imensa em todos nós. Assim é a vida, assim é a morte. Irmãs gêmeas, uma nos mostra a importância de se viver com respeito, dignidade e em constante busca da felicidade. A outra, chegando como um ladrão, rouba-nos a vida física e, no cumprimento de sua tarefa nos lembra que "sic transit gloria mundi." Que todos nós um dia teremos um encontro com ela, não importa quem sejamos. Mesmo deixando muita saudade.
Muito obrigado Hebe.
Descanse em paz.
.....é isso e ponto.
ResponderExcluirMuito boa sua "visão de Hebe", Virgílio!
ResponderExcluirAdorei.
Um abração, bem saudoso.
Andréa von Linsingen