sexta-feira, 14 de setembro de 2012

DEVAGAR MINISTRO


 
     Nelson Rodrigues afirmava que o verdadeiro torcedor tinha obrigação de ser passional. Como o brasileiro está sempre torcendo, digo eu: o brasileiro é um passional... incorrigível.  E como todo passional vive periodicamente elegendo as unanimidades nacionais.
     E com a mesma passionalidade que elege, apeia do cargo a unanimidade de plantão. É relegada a um plano inferior e em alguns casos passa a ser criticada com severidade por sua preferência de cor, time de futebol ou mesmo pelas cores de suas roupas. Não perde a condição de unanimidade. Apenas trocou de posição: em vez de a favor,  contra.
     A unanimidade da vez é o ministro do Supremo Joaquim Barbosa pela sua atuação como relator na Ação Penal 470, bem mais conhecida como mensalão.
     Não resta dúvida que a sua história de vida é um exemplo a ser seguido e imitado. Uma prova que força de vontade e determinação conseguem superar obstáculos considerados intransponíveis e servem de exemplo para as gerações em formação.  
     Não podemos esquecer que o seu trabalho competente, sério, meticuloso e árduo à frente da relatoria é o grande responsável pela  maioria das condenações dos acusados até agora e, tudo indica, a balada será assim até o final do julgamento.
     Em seu próprio benefício ministro e, principalmente da sua imaculada biografia, sua excelência não pode esquecer que é apenas um entre os onzes ministros que compõem a Suprema Corte. Sua excelência não pode esquecer, em benefício do seu maravilhoso “curriculum” de vida, que por ali passaram outros ministros (Aliomar Baleeiro, Lafayette de Andrada, Célio Borja, Viveiros de Castro, Candido Motta Filho, Clovis Ramalhete, Epitácio Pessoa, Evandro Lins, Hermes Lima, Sepúlveda Pertence, Luiz Gallotti, Nelson Hungria, Orozimbo Nonato, Victor Nunes Leal, etc.) cujo brilhantismo de suas inteligências e conhecimentos jurídicos jamais fizeram com que transgredissem os limites da eduação e elegância no trato com seus colegas.
      Se a Suprema Corte hoje é o que é não foi somente pelos brilhantes conhecimentos dos seus componentes. Foi também pelo tratamento elegante e respeitoso com que esgrimiam suas ideias, conhecimentos e colocações por mais divergentes que fossem.
     Império ou república, democaria ou ditadura, pralamentarismo ou presidencialismo não importa. O que importa é que ali é um local onde certas premissas não poderão ser relegadas jamais. Ouvir para ser ouvido, aceitar mesmo sem concordar, respeitar para ser respeitado e, acima de tudo ter a humildade de reconhecer que inteligência e conhecimento não são monopólios.
      Senhor ministro Joaquim Barbosa, por mais brilhante, culto, sério, honrado e competente que seja, não custa  lembrar que sua excelência é apenas um ministro como todos os outros. Não é O Supremo nem muito menos SUPREMO.
     Prestes a assumir a presidência da Suprema Corte, certamente o coroamento de sua brilhante trajetória de vida, cultive a humildade  e ela sem a menor sombra de dúvida realçará ainda mais suas inúmeras qualidades.
     Prestar contas, dar satisfações senhor ministro é uma obrigação de todos os cidadãos. O fato de ser ministro do Supremo não o isenta de tal obrigação, salvo os assuntos pessoais.
     Não se permita deixar levar pela vaidade e com isso ofuscar seus méritos.
     Não custa lembrar Excelância: “Sic transit gloria mundi.”
 
    
 
    

 

 

    

 

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