Na manhã ensolarada e quente daquele domingo de dezembro de 1992 no Rio de Janeiro preparava-me para ir à praia do Posto 9 em Ipanema, bem em frente ao "flat" que me hospedava quando ouvi a gritaria. Da varanda do 5º andar do flat, já advertido pela recepção do que estava ocorrendo, que as portas estavam fechadas e segurança reforçada assistimos (hóspedes e funcionários) com medo, o terror que tomou conta da praia e da Av.Vieira Souto. Impotentes e temerosos vimos o desespero dos que estavam nas ruas e na praia para desfrutar um domingo de verão tipicamente carioca.
Nessa mesma tarde/noite na forçada reclusão escrevi pa crônica abaixo para a coluna que até hoje ainda assino no JNS (Jornal Nacional de Seguros) de São Paulo, do meu querido amigo recentemente falecido Nelito Carvalho.
Hoje seu filho Sérgio Carvalho continua tocando o barco com a mesma competência do pai (também pudera, com o mestre que teve) e a inteligência de ambos , pois Lila também militou no ramo nos tempos bicudos da ditadura, (citados por Sebastião Nery no livro A Nuvem), o JNS continua a prestar seus bons serviços ao mercado segurador brasileiro.
O vídeo acima, duração de 1'05" foi divulgado à noite no Fantástico e no dia seguinte em todo o seu noticiário a Globo. Uma pequenina amostrinha do que presenciamos por um bom tempo naquela manhã de domingo.
Nessa mesma tarde/noite na forçada reclusão escrevi pa crônica abaixo para a coluna que até hoje ainda assino no JNS (Jornal Nacional de Seguros) de São Paulo, do meu querido amigo recentemente falecido Nelito Carvalho.
Hoje seu filho Sérgio Carvalho continua tocando o barco com a mesma competência do pai (também pudera, com o mestre que teve) e a inteligência de ambos , pois Lila também militou no ramo nos tempos bicudos da ditadura, (citados por Sebastião Nery no livro A Nuvem), o JNS continua a prestar seus bons serviços ao mercado segurador brasileiro.
O vídeo acima, duração de 1'05" foi divulgado à noite no Fantástico e no dia seguinte em todo o seu noticiário a Globo. Uma pequenina amostrinha do que presenciamos por um bom tempo naquela manhã de domingo.
ARRASTÃO
Quando Edu
Lobo compôs Arrastão, jamais imaginou que 20 anos depois o tema voltaria a
fazer sucesso de maneira totalmente diferente do que ele dizia nos seus
belíssimos versos.
De
semelhante somente a praia, pois da suavidade dos versos onde ele pedia que o
arrastão lhe levasse a Iemanjá, o que se viu foi o medo se espalhar pelas
areias de Ipanema e Arpoador, outrora templos sagrados da bossa nova, da musa
Leila Diniz, da intelectualidade nacional, que embora materialmente nada
resolvesse, pelo menos nos dava o tranquilizante para enfrentar os tempos
bicudos do regime militar.
O “arrastão”
de hoje preocupa pela violência visível com foi praticado e pela falta de
charme dos seus autores, quase sempre magros, famintos, desdentados e
analfabetos, Na verdade deveria causar vergonha e remorsos, pois o que vimos
hoje não é nada mais do que o fruto de uma política que dizimou a escola
pública, considerou a saúde supérflua, alimentação artigo de luxo e lazer
privilégio dos ricos.
Originário
da pescaria onde os pescadores entoando cantigas sincronizadamente puxam a rede , cantado por Caymmi e eternizado por
Edu Lobo, o arrastão não é novidade no Brasil. Posso até afirmar que o Brasil é
fruto de um arrastão, porque Cabral fugindo das calmarias da rota que o levaria
a África, terminou sendo arrastado por correntes marinhas e ventos outros,
dando com os costados no Brasil em 1500.
Daí em
diante foi um tal de arrastão que não parou mais. Primeiro o Pau Brasil levado
para Portugal para fazer tintura. Depois as mais variadas riquezas, sempre
movidas por escravos arrastados da África chicoteados pelo feitor e sob o olhar
complacente do senhor, mais preocupado em ganhar dinheiro e “fazer” nas mucamas
que arrastavam para a cama da Casa Grande ou os cantos escuros da senzala.
Das Minas
Gerais arrastaram muito ouro e pedras preciosas. Por fim arrastaram pelas
estradas e ruas o corpo de Tiradentes, que se revoltara contra a situação.
Se você
pensa que parou por aí, é bom lembrar que em decorrência do arrastão que
Napoleão e seus exércitos faziam pela Europa, D. João VI e sua Corte, antes de
serem arrastados do trono, arrumaram suas trouxas e se mandaram para o Brasil,
aqui se instalando inaugurando o arrastão do erário.
Talvez por
premonição ou conhecer bem os costumes, D. João VI antes de voltar para
Portugal, resolveu coroar D. Pedro I, tendo dito na solenidade que tomava tal
atitude antes que algum aventureiro se apossasse dela. Joãozinho, pelo visto
sabia das coisas.
Os arrastões
fazem parte da nossa história. Até no futebol já fomos vítimas, pois, em 1950,
em pleno Maracanã, os uruguaios nos arrastaram uma Copa do Mundo.
Em 1889,
gripadíssimo, o marechal Deodoro da Fonseca foi se arrastando até o Palácio
Imperial. Entrou monarquista convicto e depois de um pito, tornou-se
republicano “desde criancinha”. Nascia a República e D. Pedro II, devido às
circunstâncias, embarcava para Portugal.
A nossa
república, de arrastão em arrastão vai se segurando: revolução de 30, golpe de
37, democratização em 1945, suicídio de Vargas em 1954. Em 1961, arrastado por
um tremendo pileque, Jânio Quadros renuncia e o regime presidencialista é
arrastado para o arquivo. Nasce o parlamentarismo para Jango poder se empossar
e governar. Demorou pouco tempo; um plebiscito fez voltar o presidencialismo,
arrastando a experiência para o arquivo.
Em 1964,
arrastado pelas multidões que em nome de Deus e da Família Jango foi deposto.
Em nome da salvação e da liberdade o Brasil foi arrastado para um dos seus
períodos mais negros.
Arrastadas a
liberdade de expressão, os direitos individuais e políticos, passaram a arrastar das mais variadas maneiras o
dinheiro do povo. Angra 1 e 2, Ferrovia do Aço, Transamazônica, Coroa-Brastel,
FGTS, mudanças dos índices da poupança e do reajuste dos salários, empréstimos
compulsórios, selo pedágio, etc.
De tanto
treinar arrastão, chegamos ao máximo da perfeição no dia 16 de março de 1990,
quando Collor, arrastou o dinheiro de todo mundo, deixando-nos somente com 50
mil cruzeiros. Poderia ser bem pior se o bilhetinho sorteado pela Zélia tivesse
sido o de 30 mil cruzeiros. Milhares de brasileiros ficaram felicíssimos.
Afinal tinham no banco o mesmo que Antônio Ermírio de Morais. Era o máximo da
glória.
Na ânsia de
superar a tudo e a todos, Collor não se deu por satisfeito e permitiu (segundo
os jornais) que se instalasse o maior arrastão da história do Brasil: o
“arrastão da corrupção”. O “arrastão da corrupção” além de levar milhões de
dólares de muito para o bolso de poucos, revelou fatos muito interessantes.
Para mim, o melhor de todos foi o ocorrido com Dr. Antônio Ermírio de Morais
que desembolsou 240 mil dólares em honorários a PC Farias por serviços e até
hoje não sabe se foram prestados e que não iria reclamar. Fico a me perguntar
se isso é coisa de quem tem muito dinheiro ou, se não é, como ele conseguiu
tanto dinheiro pagando as contas sem conferir.
O arrastão
da periferia preocupa e atemoriza todos nós. Uns por medo realmente de verem
suas economias levadas por alguns marginais pés de chinelo. Outros por
conhecerem muito bem o assunto ter que enfrentar a concorrência.
PS.: Ao publicar nesse BLOG uma crônica escrita há 21 anos, o objetivo é mostrar como o Brasil se repete constantemente e irritantemente. As vezes numa velocidade tão impressionante que o episódio não consegue nem desfrutar seus quinze minutos de fama.
SENSACIONAL.
ResponderExcluirMuito bom...pude rir bastante e repensar toda essa nossa história. Chego a conclusao de que aos políticos falta criatividade para praticar os arrastoes, mas que o povo, menos instruido ainda, também é tao apoucado, que aceita de igual forma essa eterna ladainha...
ResponderExcluirObrigada por este texto amigo querido.
ResponderExcluirUm natal repleto de amor e muita compaixão.
Isabella.