domingo, 23 de março de 2014

OUTONO

      Enfim o outono chegou e, como sempre, discreto e silenciosamente.

     Diferentemente das outras estações, onde uma (primavera) exprime a esperança, a outra a explosão (verão) e por fim o ocaso (inverno), o outono representa a reflexão.

     Entre duas estações extremas, como algodão entre cristais, é o ponto de equilíbrio,  o importante momento da reflexão, do balanço do que fomos e o que seremos. É a reflexão da vida que vai dos arroubos primaveris aos cansaços e dificuldades naturais daquilo que chamamos velhice.

     Velhice não existe. O que há na realidade é o somatório de tudo aquilo que ao longo das estações fomos acumulando previdente ou imprevidentemente durante a caminhada que a estação outonal nos faz meditar e refletir do que fizemos ou deixamos de fazer, das consequências do que foi feito ou do arrependimento por não ter feito.

     No outono quando a amenidade da temperatura nos livra do incômodo do calor do verão ele nos prepara paulatinamente o corpo para o frio do inverno, e sabiamente nos mostra que não precisamos nos desesperar.

     Se ainda não despertamos para a importância do outono, olhemos com bastante atenção a natureza que nos rodeia e em especial as árvores que aos poucos vão se desfazendo das suas vestes para seminuas enfrentar as asperezas de um inverno que castiga e maltrata. Esses momentos de extremas dificuldades somente serão superados se as sábias lições do outono convencerem que as dificuldades são o mais importante alimento para a renovação e o crescimento evolutivo.

      Somos árvores. A mais importante das árvores plantadas por Deus na face da Terra. Da semente que venceu dificuldades para brotar, aos poucos crescemos e multiplicamos. E, a depender do que semeamos seremos sempre, à beira da estrada da vida aquela árvore cuja copa frondosa alivia o cansaço do viajor e seus frutos saborosos saciam sua fome. Caso inverso seremos o espinheiro que por sua aridez afasta aqueles que necessitam de ajuda.

     Valorizemos o outono, entendamos a sua importância, escutemos sua mensagem para que possamos aceitar de que a saída do palco da vida é inexorável e que precisamos nos preparar para ver cerrar a cortina sem mágoa, sem ódio, sem desespero e na certeza  de que é apenas mais uma passagem das muitas que fizemos e de inúmeras outras que teremos a realizar.

     Que a colheita de hoje foi a semeadura do passado e que ao mesmo tempo estamos semeando hoje a colheita do futuro.

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