quinta-feira, 18 de maio de 2017

DE JEITINHO EM JEITINHO...



    Nós brasileiros sempre nos achamos o máximo. Sempre nos consideramos alguém com a capacidade de resolver tudo, conseguir a solução para as dificuldades e jamais esquentar a cabeça porque na hora que as coisas apertam encontramos sempre uma solução de última hora para sair do sufoco. Confiamos tanto na nossa capacidade criativa que a fama de país do jeitinho passou a ser vista como um grande elogio. E quando a coisa ficava feia entregávamos o problema a Deus que é  brasileiro até o dia em que os cardeais elegeram um argentino Papa. Um duro golpe no nosso orgulho.
    Realmente somos bastantes criativos nas justificativas da furada da fila, do falso cochilo para não ceder o lugar no ônibus a idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais, de seguir determinada profissão exclusivamente com a vontade de enriquecer e, não no bem servir, conseguir a riqueza. Somos o rei do jeitinho em cair na área simulado um pênalti em vez de tentar o gol e de tantas outras inúmeras ilicitudes. Na ilusão da crença não atinamos que o riso alheio para tamanha baboseira  não é de crença e sim de ridicularização de tamanha idiotice.
    Essa deficiência genética viralizou e contaminou todas as classes sociais e como não poderia deixar de acontecer concentrou-se na política e o que vemos hoje é sua comprovação pois todos os nossos partidos políticos estão infectados pelo vírus da corrupção. E o que estamos vendo diariamente é uma demonstração explícita dos nossos representantes (sim, fomos nós que colocamos eles lá) em sempre inovar na capacidade de conseguir um jeitinho de fraudar, de roubar, de assaltar.
    Com jeitinho, tempo e persistência atingimos um nível tão sofisticado que passamos a exportar no setor de serviços a corrupção. Se a receita dessa sujeirada toda pudesse ser registrada não teríamos recessão e o nosso PIB seria positivo.
    Que bom seria que utilizássemos a nossa capacidade criativa em benefício do povo. Que maravilhoso seria que os nossos hospitais públicos funcionassem como deve funcionar todo hospital que se respeita, oferecendo aos pacientes um tratamento digno. Que as nossas escolas públicas em todos os níveis fossem realmente escolas de verdade e não pardieiros apelidados de estabelecimento de ensino e se a merenda escolar realmente existisse; a evasão certamente seria infinitamente menor. Que a segurança não fosse um filme de ficção e pudesse nos dar o direito de ir vir garantido pela Constituição com tranquilidade. Isso seria o mínimo e se esse mínimo existisse o Brasil seria um país que seus filhos conseguiram dar jeito.
    Mas – e o mas sempre atrapalha, preferimos de jeitinho em jeitinho ir afundando o Brasil bem direitinho.
      

2 comentários:

  1. PARABÉNS meu amigo. Infelizmente não temos a quem defender. Todos, sem exceção,no mesmo balaio de ratos. Quem sabe, agora, se roendo entre si, eles se matem.
    Triste constatação. Anos de ditadura e de democracia jogados no lixo.

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  2. Grato. O elogio de uma das melhores blogueiras do país é um alento e uma inspiração.

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