“Todas as coisas me são lícitas; mas
nem todas me convêm.” Paulo de Tarso.
Que o Brasil passa por momentos difíceis isso não
temos a menor dúvida. Que os escândalos pipocam diariamente no noticiário é uma
realidade tão cristalina que, continuando assim deixará de ser manchete para
ocupar espaço em pé de página nas publicações impressas ou escondidas no noticiário
de entretenimento, que será uma lástima. Roubam políticos, empresários, funcionários
nas diversas esferas do poder público, propina passou a ser gorjeta e a falta
de vergonha de quem oferece, solicita ou aceita deixou de corar um frade de
pedra como se dizia antigamente.
Estamos chegando a um ponto, se é que ainda não
chegamos, a poder dividir a bandagem em castas e diferenciar ladrão de
corrupto, que são a mesma coisa. Ladrão hoje é o batedor de carteira, o que
rouba celular, comete pequenos delitos, muitos deles encerrando o seu ato,
matando a vítima simplesmente por matar. Corruptos são aqueles que roubam
milhões e milhões da educação da saúde, da segurança, das obras de
infraestrutura importantíssimas para o cidadão, inclusive e principalmente para
a preservação da vida. Matam em doses diárias e homeopáticas milhares de
brasileiras, sem disparar um tiro, porém com a mesma crueldade do bandido pé de
chinelo. E, certamente, matam muito mais do que eles, por mais
longa que seja sua vida no mundo do crime. Os últimos são bandidos sem curso
fundamental; os outros com diploma universitário. Aqueles na quase certeza da
impunidade, estes na certeza da impunidade.
Parece, repito, parece, que o brasileiro resolveu
tomar coragem e mostrar a sua cara, a sua face mais cruel. Não vamos escolher a
ou b. Somos todos nós os responsáveis por chegarmos a tal situação. Uns por virem ao
longo dos séculos jogando a sujeira para baixo do tapete, protegendo e acobertando
as falcatruas dos colegas, os outros, o povo, fazendo vistas grossas, vendendo
seus votos e doidos por uma boquinha.
Mas ao que parece, nem tudo está perdido... ainda. É
que desta vez está vindo à superfície toda a lama que existe no nosso poder
judiciário, que obrigará suas excelências a mudar sua maneira de agir e com
isso criar condições de melhor julgar.
Nós, infelizmente perdemos a confiança no nosso
judiciário a ponto de não crer na máxima de que a justiça é cega. Só se for para
pobres, negros e putas. Para o andar de cima enxerga muito bem, especialmente quando
se trata dos ricos, poderosos, influentes e afilhados (existe um conhecido
magistrado que concede habeas corpus
com a mesma desinibição quando entramos num boteco para um cafezinho).
Porém como a jarra de tanto ir a fonte um dia quebra,
tudo indica que essa jarra começou a trincar, com a revelação de penduricalhos
dos mais diversos e absurdos, como auxílio educação, auxilio paletó, auxílio moradia
a todos, inclusive para os que possuem imóveis onde trabalham e pior,
vergonhoso, àqueles que são casados e coabitam o mesmo imóvel, recebendo em
dobro.
Um servidor público, como a própria definição diz, é
contratado pelo órgão público, por concurso para atender e bem ao público, não
importa o que ele possa ser e muito menos sua preferência política. Por ser
concursado não deve favor algum pelo cargo que ocupa e sim, exclusivamente aos
seus méritos. Ora, a um juiz, seja ele de primeira instância ou ministro dos
tribunais superiores, seu compromisso e responsabilidade são infinitamente
maiores, exigindo, portanto, além dos conhecimentos para o exercício da função,
uma reputação ilibada – em todos os momentos de sua vida profissional e pessoal,
para que suas decisões não sofram qualquer tipo de desconfiança.
Voltando a Paulo de Tarso: “Todas
as coisas me são lícitas; mas nem todas me convêm.”
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