terça-feira, 29 de julho de 2014

SERAFIM E O COMUNISMO



     Confesso que fico me perguntando intrigado o que passa na cabeça de certas pessoas que ficam dizendo que o comunismo está chegando que a implantação já está a caminho e por aí vai. Ora, se a intentona Comunista de 1935 não deu certo e em 1964 somente serviu para justificar o golpe de 1ª de abril em uma  época que o comunismo tinha força  e um certo prestígio, não é agora que praticamente varrido do mapa vai conseguir se instalar por aqui.
     O gostoso das baboseiras desses debilóides é que me fazem retornar à minha infância em Santo Amaro da Purificação.
     Como em toda cidade existem pessoas folclóricas e lá não era diferente. Entre elas, um negro alto forte, simpático  que possuía vários parafusos a menos. Era um maluco manso e que fora das crises que ocorria uma vez por mês que as pessoas ligavam a mudança de uma das fases da lua, não assustava ninguém.
     Serafim, o seu nome. Antes de perder o juízo foi pedreiro e segundo os mais velhos, um bom profissional. Tanto que, fora da crise, ainda ganhava uns trocados suspendendo uma parede aqui, um murinho ali, um fogãozinho a lenha acolá  e por aí...ia.
     Porém quando estava na "fase", se transformava em um dos  personagens imortais santamarenses. É que saía pelas ruas em passos largos, cantando uns versos inteligíveis e ao fim de cada estrofe dava uma meia volta em direção à molecada que acompanhava-o cantado o refrão "não vai não". E assim percorria as diversas ruas da cidade, normalmente à noite chamando atenção e provocando risos. Confesso que algumas vezes participei do coral de Serafim.
     Certa noite, acompanhado do seu séquito de moleques repetindo o refrão tradicional, uma senhora que da janela de sua casa apreciava o movimento quase nenhum de sua rua, no momento em que Serafim passava por sua porta resolveu lembrar-lhe que ele deixara as ferramentas utilizadas na construção do seu fogão. Mais que depressa Serafim entrou porta a dentro, foi até a cozinha e com as mesmas ferramentas utilizadas na construção, desmanchou todo o fogão o enquanto bem alto declamava: "Serafim fez, Serafim desmancha". 
     Apavorada, a pobre senhora,  já na rua e no  meio da molecada em êxtase,  aguardava o desfecho final.
     Finda a desconstrução, da mesma maneira que entrou na casa, Serafim saiu e seguiu o seu roteiro como se nada tivesse acontecido, cantando e ouvindo o coro dos seus fieis seguidores.
     Durante uma semana o episódio foi o assunto mais falado na cidade e motivo de muitos risos.
     A esta altura vocês devem estar perguntando o que tem a ver tudo isso com o comunismo do início. É que a única coisa que tirava Serafim do sério, que o endoidecia de verdade, é quando lhe chamavam de comunista.
     Como se vê o que não falta por esse Brasil afora, são "serafins" atormentados pelos conflitos mentais produzidos por cérebros em permanente litígio.



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