segunda-feira, 25 de agosto de 2014

AS DEUSAS TAMBÉM ENVELHECEM



     Quando as deusas envelhecem fatalmente retroagimos no tempo e nos lembramos da época em que elas povoavam  nossas mentes, nossos sonhos, nossas ilusões e principalmente  aqueles momentos em que solitariamente descarregávamos na mão toda a larva que aquele vulcão em constante erupção produzia.
     Não fazendo parte da preocupação juvenil, o tempo para nós era apenas um dia após o outro ou simplesmente o despertar de uma noite bem dormida que servia para recarregar as baterias de um corpo em constante torvelinho. Por isso, o tempo, não fazendo parte das nossas preocupações, favorecia-se disso para tranquilamente seguir em frente, enquanto costurava pacientemente nosso passado.
     Como para nós o passado era exclusivamente o dia anterior, na foto do quarto, do caderno escolar ou mesmo do banheiro, nossas deusas continuavam jovens, belas, lindas e sensuais a nos estimular  o exercício do sexo e alimentando um libido em constante ebulição.
     Como o tempo em sua marcha não discrimina ninguém, envelhece a todos. Inclusive as nossas deusas. E como envelhecem.
     Umas com sabedoria, outras nem tanto. Algumas, quando  no espelho descobrem as rugas do tempo e que sua presença não causa mais o “frisson” de antigamente, os convites  escasseiam,   desesperam-se com a realidade e abrem as portas para a depressão. Outras, inteligentemente, se afastam do cenário da ficção, dos holofotes da ilusão, passam longe dos cirurgiões e com dignidade aceitam a velhice com a mesma disposição que enfrentaram câmeras, fãs, fotógrafos, críticos e... o ocaso.
     Uma das minhas deusas envelheceu com dignidade e a mesma explosão que fez enlouquecer homens com seu narizinho empinado, seus dentinhos da frente ligeiramente separados, olhos penetrantes, ousadia constante, corpo escultural e boca sensual.
     Aquela jovem mulher, símbolo sexual de uma geração, presença constante das páginas de revistas, sempre com pouca roupa, outras vezes sem,  poses sensuais, que superlotou cinemas em E Deus Criou a Mulher,  Babette Vai a Guerra, Helena de Troia, Vingança de Mulher e tantos outros filmes de um extensa carreira perdeu a juventude, o corpo escultural, a agilidade e muito da mobilidade. Só não perdeu a dignidade, a força de vontade e a vivacidade.
     E ainda hoje na sua Saint Tropez  continua a atrair a atenção de todos, não pelo que foi e sim pelo que é. Uma mulher que transferiu toda a sua energia vulcânica para lidar com pessoas, para a meritória tarefa de defender os animais.
     As poucas roupas de antigamente, substituídas  por vestimentas sóbrias e bem compostas, a agilidade do andar, pelos passos lentos auxiliados por muletas que lhe ajudam no caminhar, continua a ser aos 79 anos  o grande objetivo de muitos "paparazzi".
     Essa mulher é Brigitte Bardot, a BB de todos sem quase ter sido de nenhum, ou de muitos poucos.


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